Num país com milhões de crianças sem saber ler e escrever, passando fome porque não têm o que comer em casa, sofrendo com transtornos emocionais porque perderam o vínculo com outras crianças, o Congresso Nacional discute ensino domiciliar. Que inversão de prioridades absurda.
Temos quase 50 milhões de alunos na educação básica no Brasil e poucas famílias demandam ensino domiciliar. O tema está longe de ter o impacto educacional que tem a expansão do ensino integral, garantia da alfabetização na idade certa, valorização da carreira docente etc.
E se formos discutir homeschooling, pontuo algumas preocupações principais:
1. Risco de aumentar o abandono dos estudos: a criança vai querer seguir estudando sozinha sem interagir com amigos no recreio, na sala de aula, na aula de educação física ou em apresentações artísticas?
2. Risco de aumentar casos de abuso sexual infantil: escola é a principal instituição que alerta e denuncia abusos familiares.
3. Baixa valorização docente: em vez de valorizar nossos professores, o caminho é descartá-los do processo educacional?
Por fim, fica a reflexão: depois de 2 anos de escolas fechadas ou muito afetadas pela pandemia, será que vale questionar se nossas crianças precisam ir pra escola? Lembrando que escola é mais que aprendizagem: é alimentação adequada, apoio socioemocional e convivência social.